Estava eu, pseudo-intelectual de ambidestra canhotice que sou, instalando meu ps2 numa televisão maior do que o espaço de chão que muita criança tem pra dormir à noite nas ruelas de qualquer cidade do planeta…
Quando me preparo para a humanista, revigorante e ética atividade de jogar god of war 2, eis que a trupe de amigos alheios chega. Gente cabeça, fãs de cosplay, vidrados em jogos online até o amanhecer, geração pós-mega-ultra-plus-moderna, 100 terabytes de espaço para novos conceitos da antiguidade com super poderes alienígenas, talicoisa.
Ao ver o início do jogo, antes que eu escolha o modo, um dos garotos, novato do grupo, resolve experimentar o batismo de fogo [sem mesmo conhecer a minha simpática coleção de desenhos irresponsáveis]: “- não escolhe o modo gay, heim… há, há, há.”
A quem não sabe, o “modo gay” é como boa parte do povo chama o modo mais fácil… também chamado de”jardim de infância”, “fraldinha”, “com medo do escuro”, “não guenta, bebe leite”, “curioso com medinho” e afins.
Pois então…
Vamos ver… Por que será que o ‘modo gay’ é o modo mais fácil?
Considerando-se as simpáticas ameaças à diversidade sexual, tais como a violência nos sabores implícita, domiciliar, explícita, social, lingüística, educacional, religiosa, política, financeira, artística [eminen é arte, de alguma forma, em algum conceito, p. ex.]?
Hum… não.
Quem sabe se pensarmos a homofobia internalizada, um ‘estupro mental’ que começa de dentro para fora, que acaba se tornando auto-mutilador e ‘regulando’ o comportamento de pessoas que acreditam piamente que ‘esconder-se’ é ‘ser feliz’, porque só se pode ser feliz com pouco mesmo, já que o restante é inatingível?
Hum… não.
Talvez seja a facilidade de sair para jantar com sua namorada ou namorado e ser convidado a se retirar [por vezes, sequer ‘gentilmente’] porque sua conduta é "inadequada ao ambiente familiar do estabelecimento". Isto é fácil?
Hum… também acho que não.
Eu procuro a facilidade, mas encontro muitas dificuldades em existir no “modo gay”. Dificuldades enfrentadas em todas as instâncias da existência, inclusive internas, vencidas através de variadas formas, com ou sem apoio de outras existências. Dificuldades afetivas, lógicas, sociais, econômicas….
Alguém pode me explicar cadê a parte fácil no “modo gay”?
É pela sensibilidade, a vaidade, o carinho, por alguns serem efeminados?
Por isto??
[ah, tem isto, mas eu considero dentro das violências de vários sabores]
Hum… Quer saber o que eu acho?
Quem existe fora da heteronormatividade é um alvo. Alvo completo, em todos os âmbitos, inclusive físico. Pode ser assassinado [e em algumas sociedades é formalmente executado], violado de todas as formas, brutalizado, humilhado, desqualificado como ser humano. Pode e é, sempre que há possibilidade.
Não possui amparo sequer do estado para garantir sua existência, embora garanta a existência deste mesmo estado com os impostos que paga.
[Brasília – Participantes da 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (GLBT) realizam manifestação contra violência sofrida por homossexuais Foto: Elza Fiuza/ABr 2008"]
Considerando-se tudo isto, o modo gay é o hiper heavy… o resto, é ficha!