Archive for the conhecimento Category

excelência na educação

Posted in comportamento, conhecimento, direitos GLBTT, educação with tags on 18/12/2010 by Jisuis

A ONG Global Alliance for LGBT Education — Aliança Global pela Educação LGBT (termo utilizado para referir lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) deu a Marina Reidel o prêmio Educando para a Diversidade, por seu trabalho educacional Diga Não à Homofobia Escolar.

Educadora e Transexual, Marina dedica sua competência também no fomento das discussões saudáveis no combate ao preconceito, como se pode ver  na reportagem aqui.

Ela  foi homenageada na parada da diversidade de Porto Alegre, realizada este fim de semana.Para quem não se lembra dela, foi uma das depoentes da novela Viver a Vida – veja aqui.

Daqui segue nossa alegria por existir uma mulher de coragem, uma educadora comprometida e uma brasileira ferrenha em suas convicções para construção de um país melhor.

Parabéns, Marina!

a filosofia é g(ay)rega

Posted in conhecimento, filosofia with tags on 10/10/2010 by Homofobia Já Era

greek16A filosofia é grega? Sim. Aquilo que entendemos no Ocidente como filosofia é um produto grego e de mais ninguém. Isso todo estudante de primeiro ano de filosofia logo aprende.

A investigação filosófica pode focalizar o cosmos, as cidades e os homens, a comunicação, a linguagem e o conhecimento, querendo encontrar elementos perenes ou indícios deles nos pontos de chegada investigativos. Caso não veja nada perene, ainda assim não desiste, pois imagina ao menos poder, sempre, fazer uma descrição racionaldesses elementos e as relações que eles mostram ou abrigam. No limite, tudo isso tem a ver, direta ou indiretamente, com o bem viver e com a prosperidade – a eudaimonia. Esse tipo de tarefa, assim descrita, é alguma coisa que, no século VI e V a.C. não se desenvolveu em outro lugar senão na Grécia antiga e suas colônias.

Em geral, as pessoas aceitam isso. O que elas não aceitam, em boa parte não só por preconceito, mas por incapacidade investigativa, é que se admitimos que a filosofia é grega temos de admitir que ela é gay. Não estou dizendo que é gay de modo universal. Ela é gay na sua origem, de uma maneira específica e fecunda. Ou seja, a filosofia nasceu gay e, do modo como ela cresceu e se desenvolveu, enquanto esteve articulada à Grécia Clássica, ela sempre foi gay. O modo de pensar da filosofia é gay.

A filosofia atualmente, ao menos para uma boa parte de filósofos, é tão outra coisa que aquilo que se chamou filosofia na sua vida grega, que mesmos os mais inteligentes não conseguem entender esse segredo de Polichinelo que estou revelando, que a filosofia é grega e gay. Vivemos em um mundo completamente deserotizado e, especificamente, des-homoerotizado. Por isso imaginamos que a atividade filosófica grega, nas suas origens, pudesse ser feita como a nossa. Ora, ela nem teria nascido se não fosse gay.

Talvez o único pensador moderno que tenha sabido dizer isso sem medo foi Frederich Nietzsche. Como nós, ele já vivia em um mundo, ao menos entre os cultos, que a atividade gay podia ser bem entendida sem que isso significasse deixar de poder fazer piada de tal coisa. Saber rir da atividade gay é um mérito gay, por isso os homossexuais acabaram por adotar a palavra “gay” para eles. Isso foi assim na Grécia Antiga. Isso é assim hoje, ao menos aos não estúpidos. Isso foi assim no tempo de Nietzsche, ao menos nos círculos dos que tinham capacidade próxima aos dotes do próprio Nietzsche.

Quando Nietzsche escreveu que Sócrates era “Platão atrás e Platão na frente”, ele estava querendo ser jocoso, é claro. Mas ele estava lembrando, também, que Sócrates não era apenas um filósofo que, na mão de Platão, aparecia como um personagem, mas sim como um personagem de vários lados, com múltiplas facetas – ou talvez mais de um personagem. Mas, nesse caso de análise de Sócrates, Nietzsche usou da condição gay como um elemento ad hoc. Agora, para falar da origem da filosofia de Sócrates, Nietzsche estabeleceu uma ligação mais umbilical entre vida gay e filosofia. Ele lembrou que Sócrates foi filósofo porque teve de sair às ruas, já que o seu lar tornou-se insuportável, uma vez que Xantipa era, para dizer o mínimo, uma mulher geniosa. Assim, posto o maior tempo nas ruas, nos ginásios, praças e mercados, Sócrates viveu não só a pederastia de modo completo, mas envolveu-se no mundo homoerótico, característica essencial vida pública grega (e não da vida privada!), de um modo que nenhum outro cidadão grego o fez. Assim, ampliou suas chances de exercer aquilo que era sua vocação, a filosofia.

A filosofia nunca foi uma atividade privada no mundo grego. Ela estava associada à política e, portanto, não era do âmbito de gabinetes, e sim do debate público. Os melhores cidadãos gregos nunca deixaram de ser, de algum modo, com nossos adolescentes, sempre aptos à vida em grupo, na rua. A investigação não se dava por meio de um homem, no recanto de um mosteiro ou escondido numa sala universitária, pensando solitariamente em religião ou marxismo. Ela se dava por meio de uma investigação dialética, oral, que só se desenvolvia por meio da conversação entre iguais. Só a rua, os ginásios, o mercado e os banquetes entre amigos podiam gerar conversas filosóficas e conclusões investigativas. Mesmo a Academia e o Liceu que, enfim, eram algo mais aproximado do que chamamos de escolas, não eram senão espaços abertos, que imitavam a rua e os ginásios, a Ágora e o teatro. Quem lê Platão sabe disso.

Nesse mundo homoerótico necessariamente público, em que a pederastia era o que é, ou seja, uma atividade educativa, a filosofia nasceu pública e gay. Ninguém imagina que pensar ou investigar podia ser feito em casa, em um escritório, solitário. Pois não era mesmo possível. Há os que tentam isso, no mundo atual, por isso não conseguem ser filósofos!

Caso Xantipa fosse uma mulher razoável, Sócrates poderia até ter sido um bom filósofo, mas não seria o Sócrates famoso. Ele não viveria o mundo da rua como viveu. E só o mundo da rua – essencialmente forjado pela idéia daparrhesia, o discurso e o comportamento maximamente franco – poderia gerar a filosofia. O raciocínio filosófico era da ordem da comunicação dialética ou dialógica – claro que aberta, honesta, franca. O elenkhós, o método da refutação usado por Sócrates, ou a atividade sofística da erística, de outros pensadores, eram formas de produção de conhecimento filosóficos que só aconteciam sob o clima de alguma forma de parrhesia. Ora, tais eram as características próprias do clima de homoerotismo que primava pela vida não dissimulada, necessariamente pública, e não da parte privada grega e tomada como afastada do pensamento.

Tudo isso que digo é documentado. Em Nietzsche, se distribui pela suas obras. E mesmo que alguém, erradamente, acuse Diógenes Laércio de ser criador apenas de anedotas, ainda assim tudo permanece como eu disse. Basta compreender o helenos clássicos, na sua forma de raciocínio, na sua prática daparrhesia, que se poderá ver como que a filosofia só poderia nascer como nasceu como grega, sim, mas a vida grega só foi como foi porque foi gay.

A maior dificuldade nos estudantes e filósofos atuais de entenderem a filosofia em sua origem é de não conseguirem compreender sua origem grega. Isso se dá por eles não conseguirem levar a sério aquilo que, por definição, é o não sério, ou seja, o gay. Eles não percebem que uma Grécia não homoerótica não criaria técnicas de parrhesia e, então, geraria outra coisa, menos a filosofia. Eles estão presos ao mundo filosófico de uma sociedade deserotizada em geral – em grande parte por sermos todos oriundos de uma “sociedade do trabalho” – e que, por isso, faz outra filosofia, bem outra. Aliás, Sócrates, Platão e mesmo Aristóteles veriam a atividade filosófica nossa, atual, como algo que eles não identificariam com filosofia. De modo algum.

© 2010 Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e prof. da UFRRJ

won against hiv

Posted in comportamento, conhecimento, hiv - aids with tags on 04/02/2010 by Homofobia Já Era
Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.

por que eu sou contra a sodomia

Posted in comportamento, conhecimento, direitos GLBTT, diversidade with tags , on 18/01/2010 by espiritualidadelgbt2010

Estava passando os olhos pelas notícias diárias, quando um fato me chamou a atenção. Era um manifestante africano, provavelmente evangélico, erguendo um cartaz onde estava escrito em letras garrafais o seguinte dizer “Africanos contra a Sodomia”. Eu passei o dia pensando naquilo. O que é sodomia? Todos sabemos que se referem ao sexo anal, ou seja, “pau no rabo”. Mas a luta daquele africano não é contra qualquer pau em qualquer rabo, é contra aquilo que ele entende por homossexualidade masculina. Sim, porque o que está em questão é o cú de outros homens.

Não, não vou defender a sodomia e muito menos o direito de as pessoas a darem seus rabos. O que realmente me deixa encafifado é pensar como é que uma pessoa pode sair da casa dela e se dar ao trabalho de escrever um cartaz contra o que o outro faz com a sua bunda e ainda ostentar isso como protesto político. A matemática é simples, se quem dá o rabo é o outro, não sou eu. Ora, se não sou eu, é o outro, se é o outro, não sou eu. Então como é que o cú de outro homem pode ocupar a mente deste cidadão?

Você já reparou uma coisa? Dificilmente estes manifestantes escrevem um cartaz escrito “Africanos contra a colação de velcro”… raramente o protesto contra a homossexualidade se dirige para as mulheres. Isso não é, no mínimo, curioso?

Dizer que a sodomia é anti-natural, é no mínimo, uma incongruência estúpida. Ar-condicionado, asfalto, televisão, água engarrafada, carro, gasolina, tecido sintético, shampoo, sabonete, camisinha, internet, TV a cabo, microfono, CD player, todas essas coisas são anti-naturais. Não obstante, você vê o cidadão lutando contra o uso anti-natural do cú, mas não vê ele lutando para que a humanidade volte a viver em florestas (que seria a coisa mais natural a se fazer).

Porque mesmo se dar o “bumbum” fosse anti-natural ou errado, será que a pessoa que luta contra tal prática abominável tem toda a vida dela pautada pela mais pura perfeição, segundo os ensinamentos cristãos? Por que para exigir do outro uma suposta perfeição, você teria que ser o primeiro a tê-la.

Isso me lembra um fato recente na história brasileira em que alguns evangélicos foram até a porta do congresso nacional protestar contra a lei que pune a discriminação a homossexuais. Ora, com tantos casos de corrupção no país, injustiças sociais, violência policial, falta de educação, hospitais, você já viu algum grupo de evangélicos irem até o congresso nacional protestar contra os escândalos de corrupção da mesma maneira violenta que eles foram protestar contra a tal PLC 122? Por que a energia mental dessa gente se direciona tanto para a homossexualidade?

Além do que, voltando ao tema do assunto, há uma questão crucial… Quem disse que a homossexualidade se resume a “pica no rabo”? A tal “sodomia” não é um elemento chave no sexo entre homens, para quem não sabe. Aliás, é muito comum homens fazerem sexo sem ninguém meter em ninguém. Mas então, como é que essas pessoas que lutam contra a sodomia sabem o que de fato se passa no sexo entre homens? Ou é fruto de experiência, ou é fruto de imaginação… em ambos os casos, isso mostra uma conexão mental direta com o objeto.

Não se trata de dizer que sodomia é certo ou errado, mas se trata de me perguntar: o que calhas d’água eu tenho a ver com o cu de um outro que não sou eu? O número de homens homossexuais que supostamente praticam a sodomia é ínfimo em comparação ao número de homens viris heterossexuais que gostam “de meter” numa vagina. Então por que o indivíduo sai da casa para protestar contra o cú de um outro? Isso absolutamente não deveria ser um problema seu, uma vez que quem ta dando o rabo, não é você. E não só não é você, como isso sequer afeta sua vida em nível nenhum.

Ok, o caso específico é África, mas tais formas mentais não são muito distantes da nossa realidade brasileira, né minha gente? Com tanta coisa mais importante para o cara protestar, como africanos unidos contra a s hipocrisia, a falasidade, o fanatismo, a ignorância, a fome, as guerras,etc, qual é a realidade mental e psicológica subjacente ao protesto contra o cú alheio?

Nas religiões da antiguidade e em religiões atuais como umbanda e candomblé, a sexualidade do indivíduo era assunto privado e ponto final. A preocupação com o ânus de outro homem é uma característica dos filhos de Sem, e das religiões abraâmicas. Pelo menos no caso do islamismo e do cristianismo, as duas religiões mais virulentas e violentas do planeta, essa preocupação é recorrente e isso tem conseqüências psicológicas profundas.

Quando eu ocupo minha mente com a sodomia de um outro que não sou eu, eu simplesmente afasto o olhar de mim mesmo, meus defeitos, minha falta de capacidade de auto-análise e o que eu preciso melhorar. Ocupar-se com o “rabo alheio” a ponto de fazer você sair de casa para protestar, faz com que você desvie a atenção de si mesmo, e passe a cuidar da vida do outro simplesmente porque não tem capacidade de cuidar da sua própria vida. Psicologicamente, preocupar-se em lutar contra a sodomia “do outro”, nos deixa na confortável posição de julgamento do outro e força a desviar o olhar de nós mesmos. O protesto contra a sodomia é uma poderosa defesa contra si mesmo.

Além do que, quando eu digo que o outro é errado, está implícito que eu sou certo, quando digo que o outro é doente, está implícito que eu sou saudável, quando digo que o outro é satânico, está implícito que eu sou divino. Como disse em outro texto, a homofobia também está relacionada a uma questão de Ego pessoal. A inferiorização do outro muitas vezes relaciona-se à capacidade de me fazer sentir melhor.

Quando reafirmo que o outro “dá o rabo”, que isso é errado, e que eu, uma vez que não dou “meu rabo”, sou melhor, mais certo, mais divino e mais saudável que o outro, estou sutilmente favorecendo meu Ego. Mas o que é mais engraçado é se perguntar por que tal movimento mental é feito em torno do ânus.

Ainda há questões profundas aí. Dizem aí alguns psicólogos que a bissexualidade faz parte da constituição profunda do ser-humano. Sabemos que quando reprimimos algo em nós, passamos a viver isso nos outros. Como eu disse anteriormente, você já viu algum evangélico lutar contra a sodomia em casais homem e mulher? Por que a mesma campanha não é feita com os africanos indo de porta em porta nas casas de famílias heterossexuais, com um cartaz escrito: Vocês Praticam a Sodomia? Não deveriam fazer isso! Não obstante, essa campanha é feita com a “suposta” homossexualidade masculina.

Mas mesmo assim, é realmente admirável a capacidade que as pessoas têm de fazer do cú uma questão teológica. Ok, sabemos que Deus não fez o cú para dar… Assim como ele não fez a boca para chupar, pois a boca foi feita para comer e falar. Mas não vemos uma campanha de africanos evangélicos com cartaz escrito “Contra o sexo oral do homem na mulher”. Entendem?

Quando Jung disse “o que Pedro diz sobre Paulo nos informa muito mais sobre Pedro do que sobre Paulo”, não foi à toa. Quando eu vejo uma pessoa lutando contra o cú do outro que não é ele próprio, não vejo uma pessoa lutando contra a sodomia, mas sim vejo a mente de uma pessoa atormentada com aquilo que definitivamente não deveria ser um problema dele. Então eu pergunto: o que leva uma pessoa a sair de casa, gerar energia mental e força física em torno do rabo alheio, senão uma profunda incapacidade de se olhar bem dentro de si e ver como se é de fato?

Nossas palavras refletem nossa mente. Lutar contra sodomia é confortável seja por que passamos a direcionar para o outro as imagens mentais que existem dentro de nós, seja por que ela nos permite vivenciar no outro aquilo que temos um desejo imenso de viver em nós. Mesmo se você advoga com toda a pompa da certeza interior que a sodomia é um pecado, na medida em que isso de fato não interfere na sua vida, isso no mínimo deveria ser um problema entre quem dá o bumbum e Deus. Eu imagino a alma deste coitado no céu e Deus perguntando: – Meu filho, você deu sua bunda durante a vida? Agora você vai para o inferno!

É com gargalhadas que recebo frases como “se todo mundo vier a ser homossexual, a humanidade vai acabar”. Ora, se todo mundo vier a ser homossexual, isso inclui que a pessoa que proferiu esta frase, uma vez que ela faz parte do mundo, admite subjetivamente que ela pode se tornar homossexual.

Ah? Já sei! O sexo anal pode trazer várias doenças, né? Sim! Assim como dirigir pode dar dor na coluna, ver televisão causa obesidade, trabalhar em escritório causa lesão por esforço repetitivo e ser professor causa sérios danos à saúde mental do docente. Algum desses africanos ostentam cartazes como “Africanos contra a televisão”?

Portanto, não venho aqui expressar minha indignação com a luta contra a sodomia, venho expressar a minha consternação em ver como as pessoas tem pouca capacidade de olhar para si próprias e vê como o modo como elas enxergam o mundo, diz muito mais sobre elas do que sobre o mundo em si.

brasil, país de alegria e hipocrisia

Posted in conhecimento, direitos GLBTT, vídeos with tags , on 25/11/2009 by Homofobia Já Era

Rafael Mattos, videomaker carioca criador do curta  “Versões” , já publicado no Blog,  produziu esse novo material sob o impacto e a indignação do episódio recente da proibição da Parada Gay em Duque de Caxias (RJ).

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the age of consent

Posted in conhecimento, diversidade, download, letra & música with tags , on 10/09/2009 by Homofobia Já Era

Bronski Beat Corria o ano de 1984 e aqui no Brasil aka Favelândia ainda vivíamos ingênuos sem supor que um vírus mortal iria devastar a comunidade gay mais rápido e mais eficiente que nem o mais delirante homofóbico poderia imaginar. A modernidade de costumes e valores se resumia a pequenos nichos no underground carioca e paulistano.

O gueto homossexual era um punhado mínimo de boates e saunas e a parada do orgulho apenas um sonho acalentado na cabeça da militância chata, utópica e perseverante.

Nesse contexto, crer na possibilidade da música pop produzir um trabalho que unisse posicionamento homo-político, novidade melódica e qualidade inquestionável poderia parecer um sonho movido por alguma componente alucinógeno.

Mas o mundo tinha ( e tem) Londres. E isso significa, para o bem e para o mal, a existência de uma ilha recheada de pessoas irrequietas e sempre dispostas a dar um passo adiante mesmo que esse passo saia à princípio torto e sem direção. O que nesse caso, felizmente, não aconteceu.

Três garotos, liderados pela figura diminuta e frágil mas de voz avassaladora, Jimmy Sommerville , produziram um single “Smalltown Boy” que deu forma e definiu a obra monumental e histórica que surgiria na seqüência. The Age of Consent, nome escolhido, simplesmente se referia à idade legal que dois homens poderiam se relacionar sexualmente. Sob o nome de Bronski Beat eles definiram  a canção homossexual de antes e depois da existência deles enquanto grupo.

25kn9mp Num projeto gráfico digno de “hall da fama”, o vinil trazia além dos habituais dados técnicos, fotos e letras, a lista de consentimento da prática da homossexualidade em quase todos os países, incluindo aqueles que a caracterizava como algo passível de pena de morte (o que, infelizmente, ainda se mantém atualizado e verídico).

Sem apelar para canções de cabaret ou canções românticas de duplo sentido, fartamente utilizadas por artistas do mainstrean em longos e difíceis processos de outing (Elton John, George Michael e Michael Stype entre os mais recentes), os meninos britânicos simplesmente narravam e celebravam em suas canções seus temores e amores com nome, rg e endereço.

screen2 Passado quase 25 anos do seu lançamento, The Age of Consent, continua sendo o mais importante trabalho pop-musical sobre a homossexualidade ampla, geral e irrestritamente assumida. Se hoje falamos de tendências como a gay disco, o homocore e até o hip-hop gay nada disso existiria com espaço de público e mídia se esse álbum único, definitivo e corajoso não houvesse sido, naqueles momentos que o homem faz algo que presta, criado.

Ouça, se emocione e tenha orgulho de ser um deles

clique nas imagens para baixar o cd

parte 1

parte 2

Bronski Beat Bronski-Beat-3-big

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poder ou potência?*

Posted in conhecimento, opinião, texturas with tags , , on 28/08/2009 by Homofobia Já Era

784068 De todos os casais adultos que conheceu, minha filha de 15 anos só admira um. É um casal de mulheres: M., HIV positivo há mais de uma década, tem pouco mais de 40 anos e uma filha de 22 – de um casamento anterior -, que acaba de transformá-la em avó; e A., de 35, que é filha de pais desaparecidos. Minha filha adorou-as assim que as conheceu, há uns três anos, quando ainda desconhecia os bastidores truculentos de suas biografias. Mas ela recebeu o verdadeiro golpe de misericórdia há um mês, quando M. e A. se tornaram mães. O aporte de capital masculino para a co-produção correu por conta de X., um homem gay, amigo íntimo de ambas, que venceu a corrida pela Grande Inseminação após derrotar três ou quatro adversários – também gays – que disputavam o topo da lista de candidatos feita pelas meninas. O bebê é chorão, robusto como um touro e tem um nome exótico e desafiador que eu jamais lhe daria. As vidas acidentadas de suas mães já acumularam exotismo e desafios suficientes. Mas ninguém é perfeito.

Andei me perguntando por que minha filha acha que sim; por que para ela – filha de pais heterossexuais mais ou menos ajustados, criada num contexto onde o amor straight não foi uma experiência especialmente deprimente – a relação de M. e A. é o modelo do amor perfeito. É verdade que o amor lésbico tem um quê de “novidade”, e que o tipo de novidade oferecido está em perfeita sincronia com esse momento homossexual por excelência – a adolescência -, em que garotos e garotas se perguntam com uma seriedade quase teológica por que motivo deveriam sacrificar a paixão cúmplice e sem fissuras que lhes inspiram as amizades do mesmo sexo por aquela que lhes promete, arrebatada, porém instável, o sexo oposto. Mas quero supor que há outras razões, algumas delas menos “evolutivas” e, portanto, muito mais estimulantes para ser pensadas. A que de início me vem à cabeça é que, por ser um amor entre “iguais”, o amor entre mulheres tem, à primeira vista, certa aura de “horizontalidade”, um componente “democrático” que o amor heterossexual – entre “diferentes” – não apresenta de forma tão visível, ou que talvez obscureça em conseqüência de uma longa tradição conflituosa, ou simplesmente sepulte sob o peso de uma vontade de poder, de posse, de exclusividade, que parece constitutiva de toda relação sentimental.

E005419 Eu pensava algo parecido há alguns anos, quando ao meu redor, no jardim com ares predominantemente pudicos da Buenos Aires dos anos 1980, os primeiros casais gays começavam a despontar como flores impertinentes. Parecia-me que, incubado num contexto repressivo, forçado à dissimulação e à militância, alheio, a princípio, aos imaginários que entristeciam o amor heterossexual (a família, os estereótipos, “o homem no trabalho”, “a mulher em casa”, “o homem em cima”, “a mulher embaixo” etc.), o amor gay tinha uma oportunidade única: a de inventar formas de experiência sentimental alternativas. Era assim que eu pensava, esperançoso, e mesmo com inveja, e assim continuei pensando até perceber como em pouco tempo, ou melhor, rapidamente, a uma velocidade que chegou a me assustar, essas flores anômalas iam se integrando às cores e às formas entremeadas ao jardim, moderando seus modos e estilos e aprendendo de cor os roteiros que, supunha-se, deviam ser arquivados numa gaveta. Da noite para o dia não havia casais mais heterossexuais – mais convencionais, sedentários, estereotipados – do que os homossexuais. A passagem da alternativa à paródia foi instantânea. As cenas de ciúmes entre gays pareciam estilizações patéticas do instinto de posse sexual straight. E o homem mortiço que recebia seu par-homem-trabalhador vestido com o avental de cozinha e a casa recendendo a especiarias transformava a velha e desoladora mulher dona de casa numa personagem quase sexy, numa dessas falsas freiras de filme pornô que levantam os hábitos e mostram que estão nuas e no cio, prontas para o que der e vier.

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os gays e seus pais

Posted in comportamento, conhecimento, cotidiano, homoparentalidade with tags , on 01/08/2009 by Homofobia Já Era

Texto originalmente publicado no blog do filósofo

Paulo Ghiraldelli Jr.


X-Men: The Last Stand

cena do filme X-Men III

Em uma lista de professores da internet, com o título “professor público”, um rapaz colocou a notícia de um pedido à Justiça, feito no Estado de Minas Gerais, para que travestis (ou qualquer outra pessoa em condição similar) possam ser tratados na escola pelos seus “nomes sociais”, e não pelos nomes de registro. A idéia é simples e justa: ninguém que é conhecido por “Valéria” quer ser chamado de “Francisco”, ninguém que é visto como “João” gosta de ser tratado por “Maria”.

O “nome social” é o nome adotado por uma pessoa, e deve ser respeitado. É como o caso do Presidente da República que, para não ser confundido na cédula, alterou seu nome, colocando o “Lula” no interior do “Luiz Inácio da Silva”. O Presidente fez isso de maneira legal. Mas, no caso de travestis e pessoas em condições similares, muitas vezes a possibilidade de trocar de nome não se faz presente, e a situação escolar já os constrange antes disso.

O triste da história foi ver que na mesma lista, uma pessoa que se autodenominou professor, avaliou o pedido à Justiça (ao qual me referi) como “pura sem-vergonhice”, afirmando que “homem tem que ser homem e mulher tem que ser mulher”. Não perguntei para a tal pessoa o que era “ser homem” e o que era “ser mulher”, pois o que viria dela, tenho certeza, não seria útil para ninguém. No entanto, a forma com que tal pessoa se comportou, trazendo à tona um jargão que só ouço na boca de extremistas de direita (não raro, sempre querendo se passar por liberais), trouxe minha digitação para um campo que, agora, no mês de agosto, é um tema da mídia: dia dos pais. O que tem a ver uma coisa com outra? Ah! Muito!

Fruto da escola pública dos anos 50 que, enfim, chegou viva até meados dos anos 60, eu nunca passei pela experiência de olhar para o lado e, então, encontrar um coleguinha chamado Mário maquiado com o batom da Valquíria. Todavia, quem disse que isso não é a realidade de hoje?

Tiramos a homossexualidade da condição de “doença”. Fizemos da orientação  sexual e, junto com ela, a identidade social geral, uma questão de decisão individual. Chegamos, inclusive, a promover leis de proteção, como extensão básica de direitos liberais em uma sociedade democrática. Temos caminhado duramente nisso tudo. Ao mesmo tempo, temos contado com o apoio de toda a plêiade de grupos que se encaixam no guarda-chuva do título das paradas do “Gay Pride”, no sentido de não deixar com que essa luta se torne algo vingativo e “sem espírito”.

Assim, em termos apropriados, quando do tempo do filme “Filadélfia” tínhamos de nos conter e não usar a expressão “bicha louca”. Mas, já nos tempos em que estamos vivendo, do “Breakfast in Pluto”, qualquer amigo homossexual com quem converso usa a expressão “bicha louca” sem achar ofensivo. O movimento gay fez mais que outros movimentos sociais neste aspecto semântico: conseguiu vitórias sem precisar, com isso, vestir terno e gravata, perder o “espírito”. Nesse sentido, o movimento gay tem muito a ensinar ao movimento negro e ao movimento feminista, com certeza!

O que tem a ensinar? Simples: é preciso ser inteligente, para tudo, e por isso mesmo, antes de qualquer decisão é necessário não deixar de lado a observação dos detalhes. Nem toda expressão é, por si mesma, pejorativa ou elogiosa. A língua se faz no contexto. Ela é contexto, nada além. Por isso, a questão do “nome social”, uma vez tendo estabelecido o contexto, é uma questão válida. Ora, mas a questão desse nome social ser algo que foi pedido para ser adotado na escola trouxe aqui o meu tema, o da questão dos pais.

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casa do saber

Posted in conhecimento, fotografia, teatro with tags on 30/07/2009 by Jisuis

Pra quem não conhece, a proposta fundamental da Casa do Saber é reunir pessoas em torno de conhecimentos. Apresentá-los, discuti-los, resignificá-los, reconstruí-los… divertir-se. Palestras, cursos, debates nos corredores e nos botecos próximos… a Casa do Saber é um projeto bacaninha que deu muito certo, na minha opinião.

Quem se interessar, vale a pena dar uma olhadela… já existe em Sampa e no Rio. Por aqui, coloco dois eventos cariocas, um deles que ocorre hoje, inclusive.

Bom proveito!

NUMA NOITE
Monólogo cantante

curso_1689“A cantora e atriz Numa Ciro faz uma apresentação única de seu “monólogo cantante”, espetáculo criado especialmente para a Casa do Saber. Combinando o canto com o teatro, sua linguagem cênica é inteiramente ancorada na voz, especificamente na poesia do canto “a capella”. O roteiro, assinado por Numa Ciro e Ana Luiza Martins Costa, aposta no encontro de tempos, origens, linguagens e estilos, reunindo peças musicais e poéticas de diferentes tradições e recolhidas entre as produções da atualidade. A voz se amolda às odes, ao romançal, aos sonetos e cantigas, aos tangos, fados e boleros, às valsas, salsas e foxtrote, às fábulas e cantigas de roda ou de ninar, aos versos musicados de grandes mestres da poesia universal. Numa promove, no palco, um encontro inusitado entre autores e obras tão diversas quanto as de Cruz e Souza, Garcia Lorca, James Joyce, T.S. Eliot, Astor Piazzolla, Roberto e Erasmo Carlos, Caetano Veloso, Chico César, Chico Buarque, Racionais MCs, Nega Gizza, Fiell e MV Bill. A tudo isso se somam ainda as peças produzidas pela própria artista em parceria com grandes músicos como Flaviola, Hermeto Pascoal, Billy Strayhorn, Jean-Michel Jarre e Luiz Gonzaga. “

30 JUL  Quinta-Feira, às 20h30 (30/07)

Valor: R$ 40,00

Saiba mais:

Thumbnail via WebSnapr: http://www.casadosaber.com.br/

 

 

 

 

Casa do Saber e Largo das Artes apresentam:

DESLOCAMENTO  

Fotografias de: Flávio Colker, Murillo Meirelles, Pedro Meyer  e Zeka Araújo
Curadoria: Martha Pagy
Abertura: Segunda-Feira (03/08), às 18h30

Foto de Murilo Meirelles

“A idéia de sair do espaço formal da galeria para realizar uma exposição em um espaço destinado a outras práticas e saberes é estimulante desde o início. De imediato surge a possibilidade da troca e da renovação. E a necessidade de se enfrentar o desafio de ocupar um espaço com dinâmicas específicas. Presente e marcante em todo esse processo é o conceito do deslocamento –  que nomeia a própria mostra e revela ao mesmo tempo a mudança e o estranhamento, desde a seleção das obras até sua instalação em diálogo com a Casa e com suas práticas. Os trabalhos reunidos na exposição reiteram esse deslocamento e ressignificam a imagem ao retirá-la de seu contexto original. Icônicos ou cotidianos, os objetos retratados deixam a esfera do documental e ganham a dimensão da metáfora, e convidam o público a mergulhar em suas múltiplas narrativas poéticas.”